Realizador: Neil Jordan
Argumento: Roderick Taylor e Bruce A. Taylor
Ano: 2007
Género: Drama, Thriller
Com: Jodie Foster, Terrence Howard, Nicky Katt
pela primeira vez, a adaptação para português do título do filme - a estranha em mim - parece-me mais adequada que o original. o filme domina-nos desde o início ao fim, brinca com as nossas emoções até à exaustão. a história não é original e os diálogos não brilham (excepção feita aos programas de rádio de erica bain), mas a interpretação de jodie foster prende-nos com a sua genialidade: sentimos a dor daquela mulher, arrepiamo-nos com a expressividade do seu rosto fechado, ficamos em suspenso com os seus silêncios, trememos com as suas explosões de violência. no final, um acontecimento inesperado. e quando as luzes se acendem, fica uma audiência esmagada e colada à cadeira.
é provável que a mensagem do filme cause alguma polémica: será que estamos perante uma apologia à violência, ao fazer justiça pelas próprias mãos? porque é que a morte do noivo de erica nos parece terrivelmente cruel e, ao mesmo tempo, assistimos com alguma indiferença (ou até mesmo satisfação) aos homicídios cometidos por ela? porque o filme apela para os nossos impulsos mais primitivos, porque faz com que sintamos empatia por uma mulher que mata por vingança, mostrando-nos que, de facto, em qualquer momento podemos passar o ténue limite que separa o bem do mal. não me parece que o objectivo seja, de facto, justificar a violência, mas sim retratar a continuidade (e não oposição) que existe entre o bem e o mal, o aceitável e o inaceitável, aquilo que faríamos e aquilo que julgamos sermos incapazes de fazer. não se trata de engrandecer aqueles que não esperam pela lei para fazer justiça, trata-se de questionar os nossos valores, a nossa identidade. até que ponto somos realmente alguma coisa se, em condições extremas, nos deixamos dominar por impulsos desconhecidos, se nos tornamos estranhos para nós próprios? será que existe alguma estabilidade, alguma continuidade em nós, algo que permaneça sempre, independentemente das circunstâncias? ou será a nossa identidade sempre um produto do contexto, e, portanto, infinitamente mutável?